"Em alguma noite nós acordaremos pro carnaval da vida;
A beleza do passeio adiante, um inacreditável êxtase.
É difícil acender uma vela, mais fácil amaldiçoar a escuridão.
Este momento, o amanhecer da humanidade,
O último passeio do dia"
O último passeio do dia"
Last Ride Of the Day - Tuomas Holopainen
Apenas os fracos aceitam a superficialidade. Apenas os fracos apreciam, convivem e desenvolvem o superficial. Porque é mais fácil, porque é mais bonito. Porque o superficial lhes propicia menos decepções, uma vez que não se pode decepcionar-se com o que não se conhece. Vivendo o superficial, a vida deles não passa disso. O entendimento deles não passa disso. O renascimento deles não passa disso. Os risos tornam-se superficiais, os relacionamentos, as alegrias, e até mesmo as tristezas. Eles não se entendem porque não conseguem acessar o profundo, pois aprenderam a viver na superfície. Não podem alcançar o que não conhecem. Só conseguem raciocinar sobre si mesmos na superfície em que estão acostumados, o que faz com que não encontrem muitas respostas, ou encontrem respostas incompletas.
“Conhece-te a ti mesmo” – Uma das mais antigas sabedorias.
Só é possível conhecer a si mesmo e conhecer o outro indo
além. Quando se mergulha dentro do mar dos sentimentos, a profundidade não
existe mais. A cada passo dado, a vida tem mais sentido, o mundo e suas
peculiaridades têm algum significado e a vida na superfície não tem mais graça.
A vida na superfície se torna vazia e você entende a tristeza dos superficiais.
Aqui, a arrogância perde cada vez mais a sua razão de ser, pois, quanto mais se
desce, mais coisas horrendas é possível encontrar, assim como belas. As
horrendas vêm primeiro, no entanto, e por isso também os fracos não conseguem
prosseguir, porque é difícil ver as coisas atrozes que jazem dentro de nós.
Como ficará seu orgulho quando você perceber o quão abjeto você é? Como você se
sentirá quando perceber seus próprios embustes? Por isso a arrogância não tem
espaço aqui, porque ela nunca será forte o suficiente para enfrentar todas as
verdades que o profundo mostra. Mas o belo... Ah, o belo. Ele é muito maior. O
belo é maior porque coisas boas também jazem ali, mas também porque o aceitamento
de suas próprias atrocidades é ainda mais belo. O aceitamento de si mesmo é
tranquilo, é bonito, é forte e é paz.
O aceitamento de si mesmo ainda trará o aceitamento dos
outros. E o aceitamento traz mais conhecimento. O conhecimento provoca sempre o
estado de confusão, onde o orgulho tenta criar justificativas para o que foi
descoberto. Se ele vencer, o estado de confusão não terminará e não será
possível avançar. Para avançar ao profundo é preciso estar tranquilo, e para
isso é necessário reconhecer e aceitar as piores torpezas encontradas até
então. Portanto, o caminho ao profundo é exercício de humildade, é o caminho do
conhecimento e é evolução. O caminho ao profundo é fatalidade, porque todos, um
dia, mergulharão. A vida na superfície é vazia, é vaga, é sem graça. Não é
possível compreender a felicidade vivendo na superfície. E não há sequer um ser
pensante que não almeje a felicidade.
É preciso ser forte para mergulhar, é preciso ser forte para
se conhecer, é preciso ser forte para se aceitar, é preciso ser forte para ser
feliz.
Manoela Brum
Inspirado, entre outras coisas, no texto: Sete hábitos de pessoas cronicamente infelizes (http://www.portalraizes.com/7-habitos-de-pessoas-cronicamente-infelizes/)