Não queria ter estes sentimentos
por ti. Quando começaram eram bruma da manhã, aconchegantes como calor de mãe.
Mas o monstro não os deixou sozinho. Apareceu para mostrar que nem tudo são
rosas, e que se forem, terão espinhos.
Não queria ter estes sentimentos
por ti. Não os tenho por ninguém. Sei dar asas às aves que me cercam. Mas por que
não sei dá-las a ti? Eu não entendo meu próprio sentimento. A alguns eu dou
porque sei que não irão voar para muito longe, ao menos não sem lembrar o
caminho de volta. A outros porque acho que se quiserem voar para longe é porque
desde sempre estiveram aqui só de passagem, migrando de lá para acolá. Mas
você... Eu não poderia perder. E não sei te deixar voar porque não sei se
saberás (quererás) ver o caminho de volta.
Há coisas que eu preciso. Preciso
tocar tua mão, preciso tocar teu rosto. Preciso ser o motivo dos teus sorrisos
e o consolo dos teus choros. Preciso saber que sou para ti tanto quando és para
mim. Ou então, preciso te deixar partir. Para sempre, para onde meus olhos
jamais te visarão e meus ouvidos não mais ouvirão falar de ti.
O problema é que nenhum dos dois
caminhos consigo seguir. Às vezes te olho e vejo que não precisas de mim.
Quando, portanto, vou partir, algo me diz firme, que para lugar algum devo ir.
Não agora. Não mais agora.
Talvez a saída seja voltar-me ao
meu mundo e ter-te apenas nele. Assim poderei continuar aqui, tentando
prosseguir sem atingir a mim ou a ti. Guardando meu “isso” para que jamais seja
maculado. Naquele meu eterno, maleável e mutável baú feito de nuvens.
Manoela Brum