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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Crianças Desdentadas

A vida tem diversas fases. A cada nova fase da vida, entramos como alguém que entra com os olhos vendados em algum lugar onde jamais havia entrado: no escuro. Entramos no escuro a cada nova fase da vida. Não sabemos como vai ser. Não sabemos mesmo como é, ou como já foi. Nem mesmo sabemos se é.
E assim seguimos nessa fase, passando aos poucos a conhecê-la melhor e entende-la. Conhecemos as pessoas que vão fazer parte desta fase, ou a imagem delas. A cada dia aprendemos mais sobre o novo terreno, as novas condições e as possíveis continuações, as possíveis próximas fases.
E assim nossos dentes vão crescendo, aprendemos a mastigar, primeiro as coisas macias, depois as “carnes” dessa nova fase; aprendemos a roer os ossos e aprendemos que uma coxa de galinha fica mais gostosa quando usamos diretamente as mãos para comê-la. E nossos dentes, então, cada vez mais fortes se tornam.
Entretanto, continuamos permanentemente desdentados. Por quê? Fases novas sempre aparecem e, embora haja cada vez mais experiências na bagagem, continuamos sempre desdentados, pois nunca sabemos o que vai acontecer. Nem mesmo os lendários psicopatas geniais (que se existirem, têm minha profunda admiração) têm seus dentes permanentemente, pois por mais que manipulem toda e qualquer situação para que ocorra da forma como querem, quando num novo terreno, numa nova fase, passam seus primeiros momentos observando o meio e as pessoas. São seus dentes que estão nascendo. Nascem mais rápido do que os das pessoas normais, mas ainda, precisam nascer.
Logo, na realidade, somos crianças desdentadas que têm seus dentes se desenvolvendo a cada nova fase na vida?
Mas... O que dizer dos dias? Dos novos dias? Você sabe como vai ser amanhã? Você acha que sabe, ou tem uma conclusão generalista de como vá ser, mas você nunca tem certeza absoluta de como será. O dia de amanhã é sempre escuro antes de acontecer. Por mais que uma análise posterior mostre que ele foi igual ao anterior, antes de ser não sabemos como será. O mesmo acontece para os minutos, para as horas. Temos uma noção de o que estaremos fazendo nas próximas horas, mas nunca podemos ter certeza. A quem acha que a tem, a vida se encarrega de mostrar que nunca a temos. Então somos crianças desdentadas sempre perante a vida, porquanto, por mais que as experiências nos permitam já saber como mastigar certas situações, sempre haverá situações novas, infindavelmente. E nunca sabemos quando essas situações virão, então por mais que estejamos em terreno conhecido e com nossos dentes firmes, sempre há relevante possibilidade de estarmos pisando no desconhecido, achando que é conhecido. Nunca sabemos, ao certo, o que sabemos, o que conhecemos. Nunca sabemos se sabemos ou conhecemos. Nunca sabemos.
Somos ainda crianças desdentadas perante a vida, perante o mundo. E sempre o seremos. E quanto mais procurarmos saber, mais ainda veremos o quanto ainda somos desdentados.

 
Manoela Brum

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O que acontece por detrás dos panos, afinal? Qual é o final da peça, afinal?

E aí você quer muito uma coisa, mas parece que a coisa não vai acontecer. E aí você entende que tem coisas que não são pra você. E aí você acha que tem que se conformar. Mas aí... Aí você pensa que não pode se conformar, que isso seria comodidade, derrotismo. Aí você acha que tem que achar que, então, tem chance de acontecer. Aí você lembra de todas as vezes que já passou por isso e que não aconteceu. Aí você lembra das vezes em que aconteceu. Aí você acha que pode acontecer, afinal, nunca sabemos o que se passar por detrás das cortinas. Mas aí vem os prós, os contras, e o "que merda, o que vai acontecer afinal"? Aí você escuta "Hurt" do Jhony Cash... Voz e violão... Achando que se pudesse começar de novo a milhões de milhas distante encontraria um jeito, um caminho. Mas o que eu acho? Acho que não faria diferença. A qualquer tempo ou distancia ou ponto geográfico, acho que essas coisas vão continuar acontecendo. Sinceramente, chega momentos que você não sabe mais se vai ou fica. Você quer ir, mas algo impede. Você não quer ficar, mas parece a melhor forma. Isso acontecendo sempre, satura.
 
O final da peça? O de sempre.
Acho que a vida é como os filmes. O geral é o arroz com feijão. E de vez em quando, muito de vez em quando o diretor surpreende.
 
Quem é o diretor dessa peça?

Manoela Brum