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domingo, 26 de agosto de 2012

Tem uma poesia querendo escapar de mim...


 
Tem uma poesia querendo escapar de mim
Não sei seu gosto, nem sabor,
Nem cheiro, nem frescor.
Posso apenas senti-la em mim,
Com todo ou sem todo o seu ardor.
 

Parece-me que tem algo a ver
Com as doces paisagens de Edimburgo,
Com sua atmosfera antiga e mágica,
Ou com seu castelo escuro.


A poesia que quer escapar de mim

Pode ser que esteja entre meus delírios,
Mas não sei como explica-la ou mostra-la.
Nem mesmo, eu consigo pega-la,
Para impedir que me roube a vida

Para se tornar viva.
 

Eu a sinto quando sinto a água na pele,
A água que cai quente e arranca arrepios.
A poesia que quer escapar de mim,
Sinto-a no vento que bate em meu rosto.
 
A poesia que quer escapar de mim está presa.

Talvez ela tenha medo da chuva,
Mas quando eu, por mim, vejo a chuva,
Sinto a poesia escapando de mim.
 
Ela foge a todo momento,
Mas a cada novo momento,

Sinto, e ela está em mim.
E mesmo depois de uma decepção,

Eu vejo um pássaro ao olhar pro nada,
e vejo a poesia saindo de mim.

Ela encontra seu berço no pássaro que vi
E com ele sai voando pelos céus.

Digo que ainda não entendi o que ela quer,
Porque logo depois, ela está envolta em mim.
 
Manoela Brum

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O Retrato de Dorian Gray

Poesia baseada no livro "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde.

O forte perfume das rosas inundava o estúdio
Trazido por uma ligeira brisa estival
Que corria por entre as árvores do jardim.
Recostado a um canto do divã,
Lorde Henry Wotton, contemplava a cintilação
Das suaves flores cor de mel da estação.

No centro do quarto,
Preso a um cavalete ereto,
Estava o perfeito retrato
Do rosto do jovem Dorian.

Quando indagado, o pintor Basílio Hallward,
Um segredo a respeito de Dorian proferiu:
“Ora, um novo modo de estilo e espécie de arte,
sua personalidade me sugeriu.
Posso agora recriar a vida,
de um modo que antes, ninguém nunca viu.”

Tal era a beleza daquele rosto jovem
Que com sua adolescência branca e rosada
Causou em seu grande amigo
A encarnação visível
Desse ideal invisível
Que persegue sempre
Ao artista incrível.

Mas tão quanto grande era sua paixão
Tão funesta foi a influenciação
De Lorde Henry Wotton,
Que disse, quiçá como predição:
“O que você falou não passa de um romance
um romance artístico, se assim o prefere,
mas quando se vive um romance,
de qualquer espécie que seja,
acaba-se sempre e completamente, sem romantismo.”

O que houve então, ao pobre Basílio?
Que depois da noite do dia 9 de novembro
Teoricamente foi para Paris no trem das onze?
Vinte anos já haviam se passado
De quando o belo quadro foi pintado
Mas o rosto do jovem de ouro
Nunca mesmo se tornou outro
Era sempre o mesmo moço
De 17 anos, novo.

Seja lá qual for a mágica,
Ou trato feito com o diabo.
Uma coisa se sabia,
O retrato, não mais aparecia.

O retrato aquele,
Que lhe revelou sua beleza,
Seu brilho no olhar, seus cachos de ouro,
Que o fez desejar nunca mudar
Revelou-lhe também sua alma
De uma forma
que ninguém poderia imaginar.

Começou com uma ruga de crueldade
Ao lado dos lábios de veludo
E ao final de 20 anos
O referido quadro, já sabia de tudo.
Como pode uma obra de arte
Suportar o peso da idade?
Como pode o verniz,
Transformar-se em rugas e expressões?
A química não explicava, nem podia, pois,
O sangue que surgiu no quadro
Quando do encontro de Dorian e Basílio, e depois.

Surgiram então, rugas de indignação,
De astúcia e hipocrisia.
Mas o que era, o que seria?
Se depois de quase ser morto,
Resolveu que bem melhor se tornaria?
Teria sido simplesmente a vaidade que provocara sua boa ação?
Ou seria o desejo de experimentar uma nova sensação?

É! Nada de bom havia
Em suas cordiais atitudes.
Por vaidade tinha respeitado.
Por hipocrisia, afivelou a máscara de bondade.
Por curiosidade, permitiu a si mesmo aquela renúncia.
Reconhecia-o agora.
Ele é que havia enchido de melancolia suas paixões.
Ele que havia corrompido totalmente seu Espírito,
Causando horror à sua imaginação.
O que o transtornava por fim,
Era a morte em vida, de sua própria alma.

Mas o quadro, lá estava ainda...
E sua simples recordação,
Punha a perder muitos momentos de alegria.
Tinha impressão de que o quadro,
Sua própria consciência, seria.
Sim, era isso, sua própria consciência.
Tinha de destruí-lo.
Olhou em volta e viu a faca assassina de Basílio.
Brilhava. Cintilava.
Da mesma forma que matara o pintor,
Mataria agora a obra, e tudo quanto ela significava.
Mataria o passado e tornar-se-ia livre.
Mataria aquela monstruosa alma visível e,
Sem suas hediondas advertências,
Recuperaria o sossego.
Apanhou a faca e enterrou-a no retrato.

Ouviu-se então um grito
e o ruído de um corpo que caía no chão.
Quando entraram no quarto,
O quadro estava lá, pendurado na parede,
Com a imagem que se estava acostumado a ver de Dorian Gray:
Um jovem de 17 anos, embora tivesse 37.
E estirado ao chão,
Um velho torpe, com uma faca cravada no coração.

Manoela Brum